Combates intensos entre forças ucranianas e separatistas pró-russos causaram esta terça-feira danos às portas de Donetsk, principal bastião dos rebeldes, que se encontra quase em estado de sítio. Várias explosões são ouvidas de maneira regular a partir de Marinka, na periferia sudoeste da cidade, de onde se elevam colunas de fumo, noticiam a BBC News e a AFP.
Em comunicado, a câmara municipal de Donetsk indica que um bairro do oeste da cidade foi esta terça-feira palco de intensos combates, tendo os habitantes relatado fortes explosões e tiroteios. «Intensos combates fizeram estragos às 17:00 (15:00 em Lisboa) no distrito de Petrovski», no extremo ocidental da cidade, refere a autarquia. A câmara acrescenta que está a «verificar as informações sobre vítimas civis».
De acordo com a mesma fonte, os tiros de morteiro disparados toda a noite danificaram uma estação elétrica de um bairro de Donetsk vizinho de Mariïnka, deixando sem eletricidade cerca de 50 habitações.
Exército da Ucrânia aumenta cerco à cidade
Os combates intensificaram-se há vários dias em torno de Donetsk, cidade com um milhão de habitantes antes das hostilidades, fazendo temer um assalto com combates particularmente mortíferos.
Em Kiev, um porta-voz militar confirmou que as forças ucranianas se «aproximaram» dos bairros periféricos de Donetsk e de outro bastião separatista, Lugansk. «Isso não quer dizer que esteja em curso um assalto. Por enquanto, trata-se de preparar a libertação da cidade», disse Andriï Lyssenko à imprensa.
A estratégia até agora definida por Kiev consiste em isolar os rebeldes em Donetsk até esgotarem os recursos que têm. O objetivo é intersectá-los na fronteira russa, por onde entram, de acordo com as autoridades ucranianas e ocidentais, armas e combatentes, o que explica as sanções económicas sem precedentes impostas à Rússia.
Kiev pede a civis que abandonem zonas rebeldes
Na segunda-feira, o estado-maior ucraniano apelou aos civis para fugirem das zonas rebeldes e criou «corredores humanitários» para esse efeito em Donetsk, onde pediu aos rebeldes que respeitassem um cessar-fogo. «Não deteremos ninguém, toda a gente é livre de fugir», afirmou esta terça-feira um rebelde num posto de controlo situado numa das artérias da cidade, onde a AFP viu dezenas de veículos a transportar sobretudo pessoas idosas.
Uma grande parte da população civil já abandonou a cidade, cujas ruas estão agora desertas e a maioria das lojas fechada.
De acordo com números divulgados esta terça-feira pela ONU, 285 mil pessoas fugiram do leste da Ucrânia, na maioria (168 mil) em direção à Rússia. O movimento de deslocação tem-se intensificado, alcançando 1.200 pessoas por dia nas últimas duas semanas.
As autoridades locais ucranianas registaram, até agora, 117 mil pessoas procedentes daquela região do país, precisou, esta terça-feira, o Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Para Vincent Cochetel, diretor do gabinete europeu do ACNUR, «trata-se de estimativas baixas, na medida em que a maioria dos homens que foge não se regista, por medo de serem alistados no exército ucraniano e enviados para a zona de conflito».
O número de 285 mil deslocados representa, no entanto, um aumento de 24% em relação à estimativa apresentada em julho.
Rússia quer missão humanitária
«Segundo as autoridades russas, 730 mil ucranianos que atravessaram a fronteira para a Rússia desde o início do ano», declarou Cochetel à imprensa. «Não os consideramos a todos refugiados, 168 mil requereram estatutos privilegiados, entre os quais o de refugiado, mas não se trata de turistas. Por vezes, passam a fronteira a pé, com apenas alguns sacos de plástico como única bagagem», acrescentou.
Dos que fugiram, 87% são originários das zonas rebeldes de Donetsk e Lugansk, e os outros residiam na Crimeia, península anexada por Moscovo em março.